Deleuze e os simulacros

O texto mais conhecido de Deleuze sobre o simulacro é Platão e o Simulacro, um dos apêndices de Lógica do sentido (1969), no qual coloca em questão o tema da "reversão do platonismo" a partir de Nietzsche. 

Não há dúvidas quanto à importância teórica em relação a este texto no qual se encontram três dos maiores pensadores de épocas distintas. Mas como proceder na prática o que teoricamente se coloca como reversão do platonismo a partir do que Deleuze, segundo Nietzsche, chama de potência do falso?

É preciso abandonar uma teoria do ser, único e imutável e pensar definido por Platão e pensar aquilo que os primeiros filósofos pensavam: a natureza, independente de sua origem. É neste ponto que o texto Lucrécio e o Simulacro é, enquanto texto menor, um texto muito mais relevante do que Platão e o Simulacro, pois há nele um fim prático da reversão do platonismo.

Platão soube muito bem pensar como o que acontece no corpo afeta a alma, mas não soube pensar o inverso. Sua busca do bem exclui desse modo não apenas o prazer do corpo, bem como o conhecimento dele em sua natureza, como diz Espinosa na modernidade, algo que Lucrécio e Epicuro já buscavam conhecer na Antiguidade helênica.

O devir da diferença é o devir da natureza esquecida pelo conhecimento do ser em sua identidade pensado por Platão e muitos outros, um devir que Deleuze busca fazer emergir das sombras negativas do esquecimento visto como um simulacro e um fantasma pelo platonismo.

Reverter o platonismo é não ter medo do devir, dos simulacros e fantasmas que rondam o mundo que tanto inquietam a alma do ser em sua identidade multiplicando a dor por não ser mais quem é, ou seja, diferenciar-se.

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